segunda-feira, 10 de junho de 2019

Um entusiasta no comando




Gladson Cameli chegou para o Encontro Binacional dos Governadores de Fronteira Brasil-Peru, no momento em que uma das principais obras que visa essa integração definitiva, a ponte sobre o Rio Madeira, está no avanço final da parte física em concreto.

O menino que sonhou em governar o Acre tem nas mãos um forte componente de estratégia econômica e geopolítica para a região amazônica e o país. Cameli pode falar com mais convicção dessa consolidação e abertura dos mercados asiático e andino para a exportação de produtos.

Desde o primeiro repasse financeiro feito para o início das obras em fevereiro de 2015 que muitos foram os sonhos, muitas vezes, adiados pela força do próprio rio que sobe em média dez metros no período invernoso, trazendo balseiros que dificultaram as obras de artes e fundações. Capítulos sombrios, denúncias de sabotagens.


Cameli sempre esteve presente, “como um calo no pé de Dilma” muitas vezes o então senador falou, mas, fiscalizando, cobrando a liberação dos recursos e prestando contas com a sociedade acreana passo a passo, pilar por pilar, de cada metro executado até os dias de hoje.

Com todos os embaraços do início de governo – alguns deles naturais – outros nem tanto, os anúncios que estão por vim já firmam a atual gestão como histórica para o povo do Acre. E olha que seu governo tem apenas cinco meses e meio de mandato.

Além do programa de ramais, que deve receber aporte financeiro de R$ 94 milhões pela Caixa Econômica Federal, o governo prepara um banco de projetos executivos para obras de infraestrutura e estruturantes na capital e nos municípios, que deve colocá-lo como grande protagonista de uma nova era.

O Anel Viário entre as cidades de Epitaciolândia e Brasileia, obra que consolida o projeto de integração parece ser o próximo desafio para atrair de vez a confiança internacional. Afinal, não falaremos mais de uma ligação do nada para o nada.

Cameli não descobriu o vento, mas conhece como poucos as voltas do rio Juruá, sabe encarar os desafios de frente. O Acre completa 57 anos turbinado pelo espírito de um entusiasta.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

A gestão Cameli e a Páscoa





Era esperado que os primeiros 100 dias da gestão Cameli não seriam fáceis, e nem poderiam. Traduzindo o pensamento do liberal irlandês Edmund Burke, o governo não se deu ao luxo de poupar, mas, de escolher a quem pagar primeiro tamanho é o rombo encontrado nas contas públicas. Herdou-se um estado praticamente falido.

Creio que na medida em que o nível de conhecimento de como a roda gira vai aumentando, os resultados se elevam de modo que mesmo em meio a tempestades – a maioria criada pelo Diário Oficial – o governador passará um domingo de páscoa se não triunfante, pelo menos mais aliviado.

Com a publicação do rito de contratação dos 517 novos profissionais da segurança pública na última terça-feira (16), centenas de famílias terão a certeza de uma vida nova exatamente na semana de Páscoa. Parece pouco, mas se pensarmos que nas últimas décadas não se falou mais em contratação efetiva, veremos que é um sinal de esperança.

Mesmo com pouco mais de 100 dias já existem sintomas de austeridade. E nesse quesito permitam-me abrir aspas para o “trio do Malheiros” que foi o mais criticado até o momento, mas responsável pelo fôlego dado ao Estado para antecipar contratações. Se não fosse o equilíbrio fiscal, cortes de cargos comissionados, fusão de pastas, esforço na arrecadação de impostos, taxas e contribuições, não se pagaria fornecedores, décimo terceiro. O Grupo Permanente de Planejamento Estratégico, o GPPE, tem sua contribuição. O secretário da Casa Civil, Ribamar Trindade, caprichosamente fez o dever de casa.

Tudo bem que o GPPE cometeu algumas baianadas – talvez empolgado com o discurso do agronegócio ou da chamada rondonização. A reforma da reforma política que chegará ao parlamento na próxima semana, exemplifica muito bem esse detalhe. “Ninguém é dono da verdade” sempre adverte o governador.



O bom é que no momento certo, pressionado ou não, Cameli foi competente para entrar em campo, bater na mesa e dizer: “aqui quem manda é o governador. Os políticos somos eu e o Rocha”.

Tenho dito sem medo de errar que aos poucos “o menino” do Juruá vai imprimindo o seu DNA na gestão pública. A grande inovação embora ainda não seja tecnológica, é no campo ético. Jornalistas que participaram da avaliação dos 100 dias no 1º piso do Palácio Rio Branco, nem tiveram tempo para reclamar do sistema de ar-condicionado quebrado, saíram elogiando a postura republicana do governador.

A liberdade de expressão escancarada no estilo Gladson Cameli, mal compreendida por aliados que esperavam um início de gestão avassaladora de “caça às bruxas”, com prisões, discurso de ódio, perseguição e cores partidárias falando mais alto do que a necessidade de a máquina pública funcionar, é o assunto mais comentado entre o quarto poder (a imprensa) e até no parlamento.

O jeito simples do ex-senador se comunicar, despachando no banco da praça sem forte esquema de segurança, indo ao rádio receber ao vivo críticas e elogios a sua gestão, é o tema do senadinho, das rodadas de tereré, da fila do banco.

Não é à toa que o petista mais vermelho do parlamento, deputado Daniel Zen, vem moderando seu discurso e pedindo mais tempo para cobrar resultados desse governo. Zen sabe o tamanho do abacaxi que o governador recebeu. Todos de mente mais sadia e equilibrados, pensam da mesma forma.

Cameli conta ainda a seu favor, com a fidelidade do vice-governador Major Rocha que tem se comportado com excelência, mostrando que o Acre está acima das picuinhas. E olha que não faltaram incursões, muitas ressuscitadas à cada nomeação de alguém que não balançou a bandeira de sol a sol.

A necessidade de despetização não poderia ser uma prioridade nos 100 dias de governo. Cameli já determinou aos seus subordinados, remanejamentos e até renomeações de quem não se perfilar em sua forma de governar. Creio que nesse novo momento, os que defendem outra lógica, outro sistema político, sejam convidados a sair.


Muitas lições devem ser tiradas desses primeiros 100 dias. O governo trocou seu porta-voz, mas ainda precisa ensinar muitos de sua equipe a dialogar; devido a egos, enfrentou derrotas na base de sustentação política, mas nenhum temporal que pudesse abater o alicerce. Nenhum fato manchou a austeridade dessa gestão até aqui sem sinais de corrupção.   

A Semana Santa é um bom momento para uma reflexão mais profunda do que virá pela frente. É hora de aprimorar o relacionamento com o setor produtivo, criar um ambiente favorável aos negócios e investimentos para que a geração de emprego e renda possa ressurgir com força total.

Essa parece ser uma receita agradável. A retomada do crescimento não acontecerá a curto prazo, a paciência ainda será um grande exercício público e um dever de todos, os que estão no poder e os que dependem do poder.

Como exigir paciência de um líder intempestivo e ansioso? O próprio governador tem dado essa resposta quando diz: “Estou amando ser governador”. Seu bom humor e tanto otimismo, serão capazes de criar as condições para a mudança.